Viagem ao "país da castanha"
Viagem ao "país da castanha"
Deixa-se o IP4 em Murça e segue-se pela EN
314, que nos há-de levar às terras de Montenegro. O que se vê, por
agora, são vinhas em fogo, com os seus matizes sanguíneos, verdes e
dourados, laivos exuberantes de uma cultura em fim de ciclo. O Douro do
vinho do Porto tem ali os seus limites, embora à medida que nos vamos
aproximando de Valpaços, na parte mais baixa do concelho, se volte a
encontrar a mesma paisagem mediterrânica, construída em torno da vinha e
do olival. É a chamada Terra Quente, designação dúbia para um concelho
que tem uma parte importante de montanha, onde o Inverno é mesmo Inverno
e a vida se desenvolve em torno da cultura do castanheiro.
Os primeiros soutos avistam-se ainda no concelho de Murça, mas é a partir da aldeia de Cubo, já às portas de Carrazedo de Montenegro, que o castanheiro começa a destacar-se na paisagem, convivendo aqui e acolá com o pinhal, a vinha e o pomar. São povoamentos ainda dispersos e pouco marcantes no meio de um horizonte cada vez mais amplo. As terras altas têm esse aliciante: levam-nos o olhar mais distante, além de nos aproximarem do divino.
Talvez seja por isso que as capelas e as igrejas estão sempre a espreitar pelos ombros das aldeias e vilas do interior. A Igreja Paroquial de Carrazedo de Montenegro, por exemplo, avista-se a quilómetros de distância, emergindo por entre o casario anódino da vila. Mas esta não é uma igreja qualquer. Começou a ser construída no século XVI e, pelas suas grandes dimensões, destaca-se naturalmente dos demais edifícios. A fachada, de estilo barroco, é imponente, surgindo flanqueada por duas altas torres sineiras. Vale a pena uma visita.
De Carrazedo, parte uma estrada para Vila Pouca de Aguiar e outra para Chaves. Seguimos pela segunda, em direcção a Argemil, onde surge nova encruzilhada: à direita, começa o desvio para a vila de Valpaços, à esquerda vamos dar à Padrela. Prosseguimos em frente, até à aldeia de Serapicos, ao encontro do presidente da Associação Regional de Agricultura das Terras de Montenegro (ver texto de abertura).
Flávio Costa e um ajudante vão enchendo sacos de 20 quilos de castanha para o mercado em fresco nacional. Minutos antes, um camião espanhol saiu carregado de castanha para o mercado de Santiago de Compostela. A apanha está 15 dias atrasada, mas o negócio já mexe.
Nos soutos vizinhos, só se ouve o zangarreio da natureza. Não há sinais de colheita a sério. São poucas as pessoas que andam pelos campos, em silêncio, de balde na mão, a apanhar castanhas.
Em Serapicos, a malha de castanheiros começa a adensar-se. Mas é preciso regressar a Argemil e tomar a verdadeira estrada da castanha, em direcção à aldeia da Padrela, para se entrar a sério naquela que é a maior mancha contínua de castanheiro da Europa.
A partir da aldeia da Nozedo, os soutos multiplicam-se na paisagem, estendendo os seus ramos até bem dentro das aldeias. A imagem é prodigiosa, apesar dos tons amarelados que vão despontando sobre o enorme manto verde e dourado. São amarelos que associamos de imediato ao Outono, mas, neste caso, devem-se mais aos efeitos das doenças da Tinta e do cancro do castanheiro, pragas que afectam quase metade dos soutos da região (ver caixa).
Os primeiros soutos avistam-se ainda no concelho de Murça, mas é a partir da aldeia de Cubo, já às portas de Carrazedo de Montenegro, que o castanheiro começa a destacar-se na paisagem, convivendo aqui e acolá com o pinhal, a vinha e o pomar. São povoamentos ainda dispersos e pouco marcantes no meio de um horizonte cada vez mais amplo. As terras altas têm esse aliciante: levam-nos o olhar mais distante, além de nos aproximarem do divino.
Talvez seja por isso que as capelas e as igrejas estão sempre a espreitar pelos ombros das aldeias e vilas do interior. A Igreja Paroquial de Carrazedo de Montenegro, por exemplo, avista-se a quilómetros de distância, emergindo por entre o casario anódino da vila. Mas esta não é uma igreja qualquer. Começou a ser construída no século XVI e, pelas suas grandes dimensões, destaca-se naturalmente dos demais edifícios. A fachada, de estilo barroco, é imponente, surgindo flanqueada por duas altas torres sineiras. Vale a pena uma visita.
De Carrazedo, parte uma estrada para Vila Pouca de Aguiar e outra para Chaves. Seguimos pela segunda, em direcção a Argemil, onde surge nova encruzilhada: à direita, começa o desvio para a vila de Valpaços, à esquerda vamos dar à Padrela. Prosseguimos em frente, até à aldeia de Serapicos, ao encontro do presidente da Associação Regional de Agricultura das Terras de Montenegro (ver texto de abertura).
Flávio Costa e um ajudante vão enchendo sacos de 20 quilos de castanha para o mercado em fresco nacional. Minutos antes, um camião espanhol saiu carregado de castanha para o mercado de Santiago de Compostela. A apanha está 15 dias atrasada, mas o negócio já mexe.
Nos soutos vizinhos, só se ouve o zangarreio da natureza. Não há sinais de colheita a sério. São poucas as pessoas que andam pelos campos, em silêncio, de balde na mão, a apanhar castanhas.
Em Serapicos, a malha de castanheiros começa a adensar-se. Mas é preciso regressar a Argemil e tomar a verdadeira estrada da castanha, em direcção à aldeia da Padrela, para se entrar a sério naquela que é a maior mancha contínua de castanheiro da Europa.
A partir da aldeia da Nozedo, os soutos multiplicam-se na paisagem, estendendo os seus ramos até bem dentro das aldeias. A imagem é prodigiosa, apesar dos tons amarelados que vão despontando sobre o enorme manto verde e dourado. São amarelos que associamos de imediato ao Outono, mas, neste caso, devem-se mais aos efeitos das doenças da Tinta e do cancro do castanheiro, pragas que afectam quase metade dos soutos da região (ver caixa).
É possível avistar algumas destas árvores monumentais logo à saída de Nozedo ou nas aldeias de Junqueira, Rio Bom, Padrela e Frutuoso (as mais notáveis encontram-se aqui), onde a paisagem de souto é mais avassaladora. Nesta zona, só as eólicas que começam a enxamear os cocurutos das serras conseguem destacar-se no meio de um mar de castanheiros. Não é nada que se aproxime da imagem do montado alentejano, que parece não ter fim. Na Padrela (aldeia que dá também o nome à serra vizinha e à mais importante denominação de origem protegida da castanha do país), a matriz rural é mais repartida, embora se desenvolva em torno da produção de castanha. Quando se percorre a estrada que liga Padrela à aldeia de Tázem, por exemplo, não é possível resistir ao peso e à beleza da monocultura. A estrada é uma linha negra rodeada de castanheiros, uma espécie de passerelle encantada. Mas para se entender bem a ideia de mancha contínua é necessário subir ao ponto mais alto da serra (a estrada é alcatroada). Só ali, a 1200 metros de altitude, se percebe por que razão a Padrela é conhecida como "o país da castanha".
Ultrapassada a serra, os castanheiros não desaparecem, mas vão diminuindo à medida que vamos descendo em direcção a Vila Pouca de Aguiar e os lameiros de montanha, os carvalhais e os pinhais começam a povoar a paisagem (uma alternativa também interessante é sair por Pedras Salgadas, tomando a estrada para Tinhela de Cima). É um cenário admirável, pela sua diversidade, que contrasta com a singeleza mediterrânica do início deste percurso. Por que não começar ao contrário? É uma opção, que se torna quase obrigatória para quem vem de Chaves ou do Porto pela A7. Mas não há nada como terminar em grande. Por um lado ou pelo outro, Carrazedo de Montenegro fica sempre no meio. E é lá que vão desaguar hoje todos os caminhos da castanha.
In: https://www.publico.pt/2010/11/06/jornal/viagem--ao-pais-da-castanha-20562853?fbclid=IwAR2PYdcKlfS0zJEra8vrVpN8Z6N4bdT_YKA2v7LodSssD4L_HZ7ftt26cac
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